infinito
Friday, September 12, 2003
  Pois é. Na verdade ele já não lia muito. Há anos que não tinha a sensação de urgência dos sábados de manhã por causa do «Expresso». Agora, de repente, parecia um menino outra vez, a correr à banca, a comprar o jornal. As notícias de primeira página não lhe interessavam para nada, quase deitava o jornal todo fora, á procura da página dela. E cada vez que a lia crescia-lhe o encanto. Sentia-a por vezes triste, algumas vezes amargurada. E ficava cheio de pena de não lhe fazer mais festas no cabelo,de não andar com ela ao colo pela rua, de não a levantar no ar para a ver sorrir de olhos a brilhar. Ele não a queria perder. Quer senti-la, a correr para ele, numa rua, cheia de surpresa e encanto, ao ponto de o deixar sem fala.

No princípio foi um beijo, assim a fugir, lembra-se ele. Um toque de pele, uma electricidadezinha a passar. Depois foi a cumplicidade nos olhares. Houve um dia em que ela o encostou a uma janela e, aos poucos, fez com que a mão o tocasse, entre o brincar e provocar. A sala cheia nunca adivinhou a razão de ser do sorriso dele.
Ele já sabia que ía gostar que ela o tivesse. Sentia. Há coisas que se sentem e não se explicam. Sabia que ela tinha ar de que ía encaixar bem com ele e que se iam entender sem grandes conversas. Nunca pensou, lembra-se ele agora, que fosse tão natural. Da primeira vez fizeram amor como velhos amantes. Bem lhe parecia que se conheciam há muito.

Ainda me lembro do primeiro beijo. De lhe ter tocado quase com medo. Da ansiedade - quase juvenil - de sentir o seu corpo. Depois lembro-me do desejo. Do desejo de a ver, de a tocar, de a ter. Sobretudo, de a ouvir. Um enorme desejo de espreitar para o fundo dos olhos dela e ver a lua lá no fundo, a sorrir. Ela tem os olhos mais bonitos do mundo e um sorriso que dança à volta deles.
No fim, descobriu-lhe o corpo. E tomou-o. E virou-o. E beijou-o, e teve-a dentro de si. Era capaz de ficar assim dias a fio, sem parara, adormecendo, acordando, entrando e saindo de dentro dela, provocando-a. ouvindo-a, gozando-a, sendo usado e abusado, virado e revirado, agradado e tomado.
Beijos lua. gosto de ti como ó caraças

Agora, quando fecho os olhos É a ti que eu vejo Agora, quando estendo a mão é a tua que encontro Agora, quando me imagino É a ti que sinto Fazes parte de mim, agora Sem saber bem como aconteceu E contente por ter acontecido

agora és eu
beijos

Terrível, pensou ele. Isto é terrível. Ela não me sai do pensamento. à noite demoro a adormecer a pensar no que ela me disse. De noite durmo em sobressalto a pensar no que o corpo dela me apetece. De manhã acordo em ânsias à procura dela. Ui. Isto assim é terrível.
A cabeça. pensou ele, assim anda muito ocupada. Ocupada demais. Não há descanso. O amor é uma inquietude? - ficou ele a pensar logo de manhã...

Mas era, no fondo, bem no fundo, era assim que ele pensava também. Já os amigos lhe diziam que ele era tão desorganizado consigo próprio como organizado com os trabalhos em que se metia. Um velho amigo dizia-lhe que era a lei das compensações, tinha-se habituado a gerir a vida dos outros e tinha-se esquecido como se geria a dele. É um processo de aprendizagem, disse-lhe o amigo. Tens que te concentrar em ti e no que tu gosytas. E é isso que ele anda a ver se percebe como se faz. Porque gosta muito dela...

- Se há coisa que gosto nela é a maneira rápida como tira a t-shirt e põe as mamas ao léu - em qualquer lugar, seja num parque de estacionamento de um centro comercial, seja à porta do bar do rio, seja no meio da rua. De repente olha, faz um sorriso matreiro, e aí vai disto. Mamas ao léu. fantásticas mamas ao léu. Adoro vê-las, tocá-las, espremê-las, chupá-las , mordê-las...
- Achas normal?
- Agora já acho mas é anormal quando ela não salta logo para fora da roupa. Ou quando ela não se agarra logo ao marsápio a fazer-me um bom de um broche, aquele cabelo lindo em cima do meu colo, todo espalhado, comigo a chegá-lo para o lado para a ver bem a chupar. Disso é que eu gosto.
- Estás a ficar agarrado, meu amigo...
- É bem capaz de ser verdade, mas antes assim que solto por aí, a voar aos saltos.

por saber como gosto
sei porque gosto
do que tu és
do que tens em ti
de tudo o que dizes
de tudo o que escreves
de tudo o que sentes

tenho saudades dos teus olhos
que saltam e riem
das tuas mãos a desenhar o ar
da maneira como ouves
de tudo o que mostras
quando falas comigo


às quartas, todas as quartas
eu pre publico-me
perante ti
ò musa que me inspiras
e tu, às terças,
escondes de mim
o que escreves
até que o sábado chegue
obrigas-me a levantar
estremunhado
à procura do expresso
o meu ardina
acha me louco
porque vou deitando
tudo fora pela rua
menos as nossas vidas

topas aqueles rebuçados de gema de ovo e açucar em ponto? - ela é assim. Derrete-se e é doce por dentro e por fora.
-não faltava muito, mas desta vez endoideceste de vez. e o que vais fazer com essa guloseima?
- vou po-la num frasquinho e fico a olhar para ela enquanto adormeço..

Quem é aquela miúda tão gira que vai ali a subir as escadas? - perguntou ele ao amigo.
Gira, não - boa, muito boa - disse o amigo, medindo-lhe as costas com os olhos, vendo a curva das pernas bem marcadas. - Escreve. Parece que escreve. Escreve nos jornais e tem uns livros.
E o que é que escreve?
- Sei lá.
- Esta é que escreveu o «Sei Lá»?
-Não, porra! Esta tem mamas, a outra não. E esta tem mais graça a escrever. E tem vida lá dentro. Não lhe vês os olhos? A outra parece que está sempre enjoada.
-Esta tem raça, tem. É do cabelo, se calhar. As miúdas de cabelo liso parece que além de terem o peito liso também têm as ideias lisas. Cabelos ondulados, olho selvagem, rabo aficionado.
- Cala-te estúpido, que me estou a apaixonar. Estou aqui, estou a pedir-lhe o email para lhe escrever. Achas que ela mo dá?

-Essa é boa, nunca tinha pensado nisso, mas se calhar tens razão.

Estou assim cheio de vontade de te dar beijos, de te pegar na mão e levar a passear num relvado grande, um bocadinho inclinado, para depois rebolarmos por ele abaixo.
E lá ao fundo, uma mesa armada, frente ao rio, debaixo de um toldo largo, com um belíssimo piquenique, com champagne, morangos, chocolate, gelados e percebes onde variamos entre comermos a papionha e nos comermos um ao outro.
Beijos princesa

Melhor. Começo a ficar melhor. Já há momentos em que respiro e a cabeça já não tem uma bomba de extracção de águas lá dentro. Finalmente consegui dormir sem acordar trinta vezes. A coisa compõe-se, portanto.
Tudo isto começou com uma infecção de garganta - o que terei eu andado a fazer com a boquinha?
Estou aqui a tratar de pôr a mosquinha morta a render com os teus meninos - havia de ser giro de ver (ai se ela soubesse...).
Ainda me hás-de contar melhor como foi essa história dela...
Adiante. O que me apeteceia era fazer umas massagens bem dentro de ti, espalhar-te oleo nas costas e brincar ás estradinhas no teu corpo. beijos beijos beijos beijos beijos b

Às vezes apetecia-lhe ser mecânico numa oficina de carros para ficar tardes inteiras a apertar parafusos enquanto olhava para uma fotografia dela nua, num daqueles calendários da Castrol que as oficinas têm. Imaginava-a ali, entre cardans, pistons e culassas, um pouco de óleo negro nas mamas, shorts muito curttos a fazer saltar o rebordo das nádegas, a barriga lisa, dura e tesuda como só ela.
Goatava de a comer em cima do capot de um carro. Não me importava de atravessar a Europa ao lado dela, num Simca Aronde de bancos de pele de leopardo sintética, o seu cabelo ao vento, as pernas e tilitarem-me a cabeça, o cheiro da cona a misturar-se com o ar.
Havia de dormir em pensões à beira da estrada, eu a inveja dos camionistas, ela ao lado pela cintura a rir-sem, a gritar à noite nos quartos de paredes finas, um gajo a gritar: «vem-te porra para ela se calar!», os olhares matinais à volta do café a babarem-se e eu contente de a saber minha e a poder mostrar.
E queria depois passear com ela, mão dada, a pé, no meio do campo, nas margens da água, parando de vez em quando prara a olhar nos olhos, par a ter, para dormir uma sesta bem fodida debaixo de uma árvore, de sentir a erva a entrar-me no cu enquanto ela se punha por cima e me enterrava dentro de si.
Queria tanto dormir solto nos seus braços, não ter horas nem fim, saber que ela me acordava a agarrar na pila e a brincar com ela, como eu a acordava a separar-lhe a boca das pernas com os dedos. E ficar no quentinho a ver um sorriso malandro a crescer-lhe ao mesmo tempo que acordava devagarinho com o meu caralho a furar-lhe as entranhas.



quando não estás
tenho a tua voz guardada dentro de mim
quando não te vejo
tenho os teus olhos guardados nos meus
quando não te sinto
tenho a tua pele colada à minha
quando não te toco
tenho o teu cheiro gravado na minha mão

gosto de te ver deitada
no mar
pernas abertas
a agua a penetrar-te
o reflexo na espuma
o cabelo levado na onda

És parvo- dizia ele ao amigo: não há maneira de conseguir ver a lua num dia de tanto sol. Simplesmente o sol brilha mais que a lua, continuou. Sorridente, o amigo levantou-se, chegou à janela, apontou lá para cima, e respondeu-lhe: és parvo! a minha lua brilha sempre mais que o sol. estou a vê-la mesmo agora.

tás a ver? - eu sabia que ela estava lá, disse ele ao amigo enquanto lhe dava um palmadão nas costas. Cabrão, porque duvidas tanto?
Passou a noite a pensar nela. Estava linda. Reviu os momentos em que ela se sentou ao seu lado. Reparou na curva da nuca, no cabelo sobre os ombros e, sobretudo, naquela maneira de andar que era irresistível, cada vez que ela se levantava. Apetecia-lhe te-la abraçado, apetecia-lhe te-la escondido dos outros, guardado pequenina, dentro da camisa.
Terei a voz assim tão arrastada, interrogava-se, pensando no que ela tinha dito. Incrível.
Adormeceu a ver os olhos, aqueles olhos tão bonitos em que ele se perdia vezes sem fim.





 
Monday, August 18, 2003
  A MESMA CANÇÃO

A ave canta o mesmo canto
sem errar na melodia,
o mesmo que há tempo tanto
a gente ouvia.

Que maravilha é notar
como tão extrema canção
tem durado sem mudar
de fabordão.

Mas outra ave canta agora -
ah sim, a outra é já pó,
como os que ouviam outrora
comigo só.



(Poema de Thomas Hardy, tradução de Jorge de Sena)

 
Wednesday, August 13, 2003
  Para falar do que aprece evidente, do que muda todos os dias, do que está à nossa frente e nem sempre conseguimos ver. 
«Quem? O Infinito? Diz-lhe que entre. Faz bem ao infinito estar entre gente». Alexandre O'Neill

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